Johann Grondin: A jornada a pé de 8 mil quilômetros pelo Brasil
Johann Grondin, um francês de 47 anos, embarcou em uma aventura épica: atravessar o Brasil a pé, do Chuí, no Rio Grande do Sul, ao Oiapoque, no Amapá. Uma jornada de aproximadamente 8 mil quilômetros, que muitos considerariam impossível, mas para Johann, representa muito mais do que uma simples caminhada. Iniciada em 24 de fevereiro de 2024, essa jornada promete durar um ano e meio, um desafio que testa os limites físicos e mentais, mas também proporciona uma imersão profunda na cultura e na geografia brasileiras.
Residente no Brasil há sete anos, após se casar com uma brasileira e se estabelecer em Caeté, Minas Gerais, Johann buscava algo mais do que a rotina. Ele sentia um vazio, uma busca pela sua própria identidade, e acreditava que essa grande caminhada poderia ajudá-lo a encontrá-la. “Quando cheguei no Brasil, eu queria saber quem eu seria. Aprender uma nova língua, uma nova cultura… aos 40 anos, começar uma nova vida, reaprender a falar, a conversar com as pessoas”, ele explicou em entrevista. Essa jornada se tornou uma metáfora para sua própria transformação.
A preparação, para sua surpresa, não foi tão complexa quanto imaginava. Johann, que sempre praticou esportes, confiou em sua condição física e em uma reserva financeira para custear as despesas. Ele planejou apenas a primeira semana, pois sabia que o caminho se revelaria a medida que ele o percorresse. “Você não precisa saber tudo. Se quer saber tudo, você nunca vai. Você precisa saber o mínimo e depois você vai entender seu caminho”, afirmou.
Equipado com o essencial – roupas para proteção solar, saco de dormir (que deu lugar a uma rede no clima mais quente do Piauí), capa de chuva, bastão de caminhada e um caderno para registrar suas experiências – Johann iniciou sua jornada. Os primeiros meses foram cruciais para entender as necessidades do corpo e adaptar-se aos desafios físicos. As dores nas costas, pés e joelhos foram constantes no início, mas com o tempo, seu corpo se adaptou, criando músculos e resistência. Ele aprendeu a lidar com as bolhas e a controlar o ritmo, compreendendo que a distância percorrida diariamente deveria ser compatível com o bem-estar físico. A principal lição aprendida? “O mais complicado é sair do sofá pra caminhar. O resto flui.”
A RedeTrilhas, uma iniciativa do Governo Federal que mapeia trilhas e oferece apoio aos viajantes, tem sido uma aliada fundamental nessa jornada. Johann tem contado com a rede de apoio da iniciativa, encontrando abrigo, alimentação e até oportunidades para compartilhar suas experiências com estudantes e comunidades locais. Esse apoio humano, para ele, tem sido mais valioso do que qualquer auxílio financeiro.
Sua rotina diária envolve cerca de 40 quilômetros de caminhada, embora tenha chegado a percorrer até 80 quilômetros em um único dia. Ele utiliza as redes sociais para compartilhar sua experiência com seus seguidores, mantendo contato com a família e outros aventureiros. Em suas postagens, Johann descreve momentos hilários e inesperados, como a dica de uma farmacêutica em São Raimundo Nonato, Piauí, que sugeriu o uso de absorventes como palmilhas improvisadas – uma solução simples, barata e eficaz para lidar com o suor nos pés!
A jornada não é apenas física. Johann encontra na caminhada a oportunidade de profunda introspecção, refletindo sobre o passado, o futuro e o presente. Ele desenvolve amizades genuínas ao longo do caminho, construindo conexões humanas que enriquecem sua jornada. Embora tenha se sentido tentado a desistir algumas vezes, ele superou esses momentos de desânimo, encontrando força na sua própria determinação e no propósito de sua caminhada.
Johann espera chegar ao Oiapoque em agosto de 2025, e seu filho adolescente, de 16 anos, deve se juntar a ele para o final da jornada. Uma aventura que, além de desafiadora, se transformou em uma jornada de autoconhecimento, amizade e uma reconexão consigo mesmo. Ele afirma, com convicção: “Acho que achei uma paz. Sei quem eu sou, para onde vou. Sei que estou em um caminho justo para mim e acho que sou feliz de verdade pela primeira vez na minha vida. Muito feliz.”
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